Desate o nó
num desatino; um desafio.

Retalhos.

By Diego Paulino
- POR QUE VOCÊ NÃO SE OLHA NO ESPELHO E SENTE VERGONHA DO QUE SE TORNOU?!

O rapaz indagava, encarando a mulher a sua frente com estranheza. Em seus olhos via-se culpa, via-se uma mescla de raiva e pena, que subia de seu estômago, refletindo em suas palavras.

- ME DIZ: ONDE 'TÁ AQUELA MULHER QUE ME CRIOU? ME DIZ!

Se raiva, pena e culpa eram notáveis nos olhos do rapaz - que agora tremia, involuntariamente -, na mulher tudo transparecia, como se a irracionalidade momentânea causada pela fúria que aflingia seu corpo fosse impossível de ser contida. - Me solta! - Ela ordenava, de maneira tola. As lágrimas que molhavam seu rosto proviam da discussão em que a dupla se encontrava. Ela, a mãe, fazia o papel de filha, ouvindo a verdade vomitada de seu filho, ouvindo que...

...A MULHER QUE EU CONHECI, A QUE ME CRIOU DESDE QUE PAPAI NOS DEIXOU NÃO EXISTE MAIS!

Aquilo a atingia como flechas certeiras. Em seu íntimo, naquele resquício de razão que escondia-se em algum lugar de sua alma, sabia que as palavras proferidas por seu filho - sim, era isso o que ela era: Mãe -, estavam certas. Porém, o orgulho falou mais alto, não deixando sua cabeça baixa, convicta, soltou em um berro. Fora uma explosão. Para seu filho, mais do que isso, fora uma hecatombe. - Eu te odeio!

Seu interior rasgou, fora estraçalhado tal como quando um cão feroz retalha seu "amigo" gato. Fora partido por dentro. A vidraça que o sustentava, sustentava todo o seu corpo e alma caíra em um precipício. Despedaçando-se em incontáveis cacos, que tardariam a voltar a ser um - se é que voltariam.

- Bom pra mim, porque é recíproco. - Finalizou, batendo com a porta o mais forte que pôde enquanto saía daquele cômodo. Seus olhos, outrora tão raivosos, agora somente brilhavam pedindo compreensão.

Ou qualquer maldita resposta para tudo aquilo.
 

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