Desate o nó
num desatino; um desafio.

O Surto de Olavo

Category: By Diego Paulino

Sem nada mais para fazer, a não ser pensar que eu era um completo inútil, me olhei no espelho:
o que vi estava muito além da imagem que tinha projetado em minha mente: lá estava eu, com olhos vermelhos, de tanto chorar e de tantas drogas - no sentido literal da palavra, ingeridas, inaladas e vividas, lá estava eu, com um sorriso um tanto insano nos lábios, típico, lá estava eu, gargalhando em meio a lágrimas desenfreadas, olhando para o meu reflexo borrado, lá estava eu, com um revólver em minha têmpora.
Clic
Pronto, já estava engatilhado, agora é só questão de tempo para eu pressionar a alavanca, por vontade própria, ou por um vacilo, não importava mais, meu objetivo era pôr um fim a isso tudo, talvez fosse covarde da minha parte acabar com tudo isso assim, ou mesmo corajoso, dependeria do ponto de vista e do observador, dependeria da sociedade
- Maldita Sociedade! - eu gritei em frente ao espelho, não ajudou muito, a imagem que tive foi de uma pessoa num estado mais lamentável do que aparentava ser, enfim, não havia uma razão pra essa revolta repentina, haviam muitas razões, mas nem eu, e nem mesmo Freud poderia dizer qual era o elo mais forte dessa corrente de insanidade, era uma confusão de sentimentos em minha cabeça, um turbilhão de emoções que confundiria até mesmo a mais centrada das pessoas.Não existia razão para continuar, voltar atrás não era uma opção, deveria terminar com aquilo, com aquela orgia de desgraças que eu chamava de vida,
- Vida!- eu cuspi o nome como se fosse um xingamento, é agora ou nunca.
Pressionei mais o cano gelado do revólver em minha cabeça, um tiro certeiro era do que precisava... Um, dois... Três, é agora...
CLIC.



- Então, depois desse relato, como você está conversando conosco hoje?- o cara do lado oposto do circulo de pessoas me perguntou.
- Bem, eu não era suficientemente bom no manejo de armas de fogo, a arma estava descarregada.
- Hum - o homem retomou a falar- pessoal, esse foi o relato de um quase-suicida, quem vai ser o próximo a contar suas experiências, a se abrir conosco?Lembrem-se: estamos aqui para ajudarmos a nós mesmo ouvindo a historia do próximo... Sim, Paulo?
Pelo canto do olho vi que havia um homem com um braço levantado, querendo fazer uma pergunta.
- Só queria saber- ele disse- e o bilhete suicida, todos deixam um, não?
- Há Há Há - eu ri- caro, Paulo , certo? A versão de Hollywood sobre suicídios não é tão verdadeira...


Desde o dia que tentei tirar a única coisa que poderia dizer que é minha- a vida. Eu comecei a freqüentar um centro de recuperação, pra conversar com pessoas, e, por incrível que pareça, isso fazia bem. Desabafar era ótimo. Mesmo.

E o que quase me fez interromper minha existência precocemente, agora era a mocinha da história, ou o mocinho, tanto faz; aquele que dá o beijo no final da história pra donzela acordar.Os papéis haviam se invertidos: a bruxa, chamada sociedade, virou princesa.

 

1 comment so far.

  1. Bruna Uliana. 24 de março de 2009 às 14:29
    Amei! Você só melhora! o:
    Ou fui eu que passei muito tempo longe disso tudo, e tinha esquecido de como é gostoso ler seus textos.
    :)

Something to say?